segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Miniconto

Este blog está se especializando em inaugurar coisas. Desta vez, inauguro a sessão Miniconto, onde eu escrevo alguma historinha que não pretendo publicar em livro. É uma forma de exercitar a capacidade de criação.
Este miniconto eu escrevi em 1970*, logo após a vitória brasileira contra a Itália na Copa do México. É incrível como isso ganhou sentido agora.
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Uma história de merda

Estava eu, um velho homem de 78 anos, sentado num banco de praça e lendo o caderno de esportes de um jornal local, enquanto observava um pouco o que acontecia na minha volta. Minha visão era um tanto parva e só conseguia perceber bem o que estava na minha frente e muito próximo, por isso, me concentrava mais na leitura do que no que estava acontecendo na praça. Em compensação, talvez infelizmente, minha audição era perfeita. Diziam que eu tinha ouvidos de tuberculoso, título que ainda tenho, passada uma semana do fato...
Minha leitura era atrapalhada pelo discurso de dois cidadãos que estavam atrás de mim. Um tentava desmoralizar o outro, com palavras sujas. Depois de algum tempo, senti algo estranho bater nas minhas costas, seguido de um cheiro insuportável de merda. Fui obrigado a dobrar o jornal e me virei pra olhar o que tinha me lançado o enfeite.
Avistei os dois cidadãos que debatiam numa cena... o da direita, usava um terno preto, camisa azul e gravata vermelha com estrelinhas brancas. Um chapéu vistoso lhe cobria a cabeça. Enquanto o da esquerda usava uma calça social preta, camisa azul clara levemente arremangada e gravata também preta. Não usava chapeu, mas gritava auto e esbravejava palavras bíblicas distorcidas. Ambos estavam com grandes baldes de merda de diversas origens. Tudo fedia. Enquanto eu pensava que estavam apenas debatendo e discutindo, estavam é fazendo uma guerrinha de merda. Teve uma hora em que aconteceu uma coisa engraçada: o da direita atirou um monte com as duas mãos e atirou no da esquerda, pegando-lhe num bóton que usava que acho que era de alguma igreja. Este ficou furioso pegou a bosta do fundo do balde, a mais fedorenta, e atirou no chapéu do da direita, derrubando-lhe o adorno da cabeça e expondo uma outra coisa que tinha em baixo, da qual eu não consegui identificar direito. Mas eu, como velho e vivido que sou, não quis ficar ali, aguardando chegar mais merda na minha roupa limpinha. Eu não queria feder como aqueles dois. Dei um jeito de trocar de praça e deixar os fedorentos de lado.
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*Em tempo: o autor deste conto é mentiroso. Diz ter escrito em 1970, mas nasceu em 1975. Não acredite numa só palavra dele.

Um comentário:

Anônimo disse...

"huahauha Pelo jeito ainda veremos mais merda sair do fundo dos baldes"