sábado, 27 de agosto de 2011

Setembro promete, mas agosto cumpre

Este blog voltará a bombar! Já é a segunda no mês. Mas antes de mais nada, aviso aos caros e raros leitores: estão por vir duas datas cívicas comemorativas setembrinas: dia 7, alusivo à independência dobrabil, digo, do Brasil - além do centenário do G. E. Brasil de Pelotas - e o dia 20, que vale apenas ao RS. Nas duas datas, prometo postagens alusivas. Aliás, a da data gaúcha virá com uma repostagem. Não percam. Mas voltemos aos assuntos relevantes, não que esses que citei sejam irrelevantes ou desprezíveis. Não são. Essas datas são importantes pra gente lembrar algumas coisas esquecidas, como uma piada-clichê (aqui eu diria algo do tipo: a data é importante pra lembrar de algo esquecido, mas eu também esqueci, mas isso é tão clichê - não confundir com chiclé). Tá bem, leitor, já enrolei o suficiente. Vamos à narrativa de hoje.
Ontem, estive numa reunião de comunidade escolar, chamada de conferência. Não era pra conferir nada, embora o nome sugira. Mas valia pra debater coisas relevantes, como a cor do uniforme escolar e se as mães deveriam ou não tomar chimarrão assistindo novela enquanto os alunos estão na escola à tarde. Como o leitor deve saber, e digo deve no sentido de precisar e dever, uma conferência toma decisões importantes e encaminha diretrizes pra ações de governos. Tudo que for decidido, deve ser cumprido por quem deve fazer as coisas. Em todo caso, discutimos muito a questão de os alunos usarem ou não uniforme. Eu sugeri que usassem um poliforme, mas fui voto vencido. Depois discutimos se os alunos farão curso de desengraxate de rebite ou rebitador de desfibrilador. Sugeri que eles fizessem uma capacitação em conhecer a relevância em saber selecionar melhor os assuntos prioritários e esquecer as picuinhas, mas nem me deram ouvidos. Depois, a discussão ficou mais séria e houve uma proposta pra que a educação se tornasse um ato de o professor entrar na sala de aula, onde estivessem entre 25 e 35 alunos, o profissional passar a matéria no quadro e os estudantes copiassem. Algo assim, tipo um detentor do saber e um bando de abobados que ficam em silêncio, mantendo a ordem que só importa a quem detém o poder. Resolvi palpitar que a gente poderia discutir alternativas, como uma escola mais livre, constituída por livres pensadores, onde os alunos fossem desafiados, onde a pesquisa fosse o ponto forte e que fossem abolidas as mesas. Acharam meu pensamento muito retrô e não quiseram nem discutir. Desde então, resolvi me calar e me ater apenas a votar, quando fosse chamado. Daí veio a proposta de chamar instituições externas pra uma intervenção, o que acabei votando favoravelmente, embora eu saiba que isso já ocorre. Aliás, ocorre da maneira mais superficial possível, só pra entrar no relatório. Depois foi comentada a pífia presença de pais no evento, o que foi justificado que muitas mães ficam na frente de casa tomando chimarrão e não vão à escola decidir as coisas importantes. Lembraram que a escola recebeu tudo pra organizar em menos de uma semana, sobre assuntos que deveriam ser discutidos em meses de encontros e isso prejudicou a divulgação da coisa toda. Então, as mães tinha toda a razão em querer ver o vale a pena, porque ver de novo tudo aquilo que já vínhamos discutindo pra continuar tudo como está, vale muito mais a pena um mate. E a discussão se estendeu até chegar num calo. Surgiu a sugestão de que a lei do piso dos professores fosse cumprida. E teve a justificativa: uma educação de qualidade passa por valorização dos profissionais. Um pai levantou a voz, não que os pais não tivessem levantado a voz antes, mas esse foi mais específico, já que os outros entraram em debates de maneira mais séria, mas esse eu faço questão de apontar. O tal pai levantou a voz pra questionar: quer dizer que a minha filha tem péssimas notas e não aprende nada porque vocês são mal pagos? Se vocês ganharem bem ela vai passar e aprender? E fez uma cara de deboche. Com essa atitude, nos acusou de sermos mercenários. Alguns colegas defenderam direitinho, mas sem convencer muito. Outros pais também responderam ao acusador. Eu fiquei com uma enorme vontade de dizer-lhe: trabalho das 7h e 30min às 17h na escola e depois vou até as 21, 22h fazendo as atividades necessárias. Ninguém ensina o que não sabe. Pra saber, precisa estudar, pesquisar, ler. Pra isso, precisa buscar essas informações. Essas informações estão, basicamente, em livros e requerem tempo. Logo, pra conseguir ensinar melhor a filha dele, eu precisaria de tempo livre e dinheiro livre pra tudo isso. E eu não consigo ter o mesmo entusiasmo pra trabalhar com o que ganho, porque tenho que viver sem nenhum tostão a partir do décimo dia do mês. Por isso a lei do piso deve ser cumprida. Não é uma questão pessoal minha ou de vaidade do professor. É uma necessidade de toda a sociedade. Mas resolvi continuar calado. Deixei que a coisa andasse, porque, creio, já haviam tantas respostas que a minha só iria esticar mais o debate e se perderia o foco nas coisas relevantes, como a cor do giz que deve ser adotada no título do texto que vai pro quadro.
Ufa! Duas num mês! To recuperando a velha forma!


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Muito tempo pra nada

Sacudindo a poeira deste espaço, vai um exercício de análise semântica. Quero analisar um termo muito utilizado como subterfugio e que tem muita gente que pensa que não diz nada, mas que na verdade, diz muito mais. Pensando bem, o termo é exatamente o contrário do que pensam dele. E eu estou usando períodos curtos demais. Em excesso, diria. Curtíssimos. Mas não vem ao caso. O termo utilizado, que quer dizer exatamente o contrário do que a maioria das pessoas pensam e que expressa muito mais do que aparenta, constrói um axioma aparentemente vazio e que só é utilizado para fins de humor, não o líquido nem o aquoso, mas o humor rísido, é um do qual não sou a favor, nem contra, muito antes pelo contrário. Espera. Vou mudar o termo. Acho que este que falei há pouco é muito mais significativo e encaixa perfeitamente no que havia comentado antes, neste mesmo parágrafo, mas em período anterior, o que me poupa tempo de ficar revisando e substituindo expressões e procurando soluções, além de ficar melhor. Analisemos então o termo "nem a favor, nem contra, muito pelo contrário.". Vamos à análise, antes que o leitor canse da leitura. Aliás, duvido que alguém continue lendo este blog. Em todo caso...
A expressão em questão, baseia-se em duas lógicas. A primeira delas é de contrariar duas situações antagônicas: ser a favor ou ser contra. Parte do ponto de vista do gaúcho tradicionalista, aquele que acha que ou se é de direita ou se é de esquerda, não existindo nada além disso. Nem falo em futebol, porque isso é uma coisa que muito me irrita nesse estado pretensamente bipolarizado. É a visão de que só do outro lado é que é uma ditadura. Tem gente que ama o Pinochet, dizendo que ele "fez uma limpa no Chile" e odeia Fidel Castro porque "é um ditador", e vice-versa. A segunda questão é exatamente a contrariedade disso. É dizer: no RS não existe só aqueles que jogam de pijama e aqueles que são um balcão de negócios de carne humana. Muito pelo contrário: existem aqueles que suam a camiseta, especialmente no interior. Existem índios valentes, milhares de apaixonados índios valentes. Mas isso é desprezado pela mídia pra impor uma pseudo-dicotomia. Mas vamos a um exemplo mais claro, pra não vincular apenas a um espaço. Vejamos a questão do desarmamento, do ponto de vista de quem quer diminuir a violência, o que engloba uma parcela considerável da população mundial.
Ser favorável ou contrário, pouco importa. Existem diversos argumentos que podem servir tanto a um lado quanto ao outro. O que diferencia tudo é o objetivo em se ter uma arma. Quem tem uma com o pretexto da defesa, é um violento em potencial. Esse tem a vontade mesmo é de usar o instrumento. São as pessoas que acreditam que a propriedade é o suprassumo da felicidade* e estão dispostos a matar "pra garantir o que é seu". De outro lado, não ter arma por julgar que ela é culpada pela violência também é um erro. Quem tem vontade de matar, mata com as mãos, ataca em bando, atira pedras ou envenena. Existem muitas maneiras de fazer isso. Não é a existência da pólvora que transforma o mundo em carnificina. Muito pelo contrário. O "muito pelo contrário" é exatamente isso: procurar um outro ângulo menos obtuso. O "muito pelo contrário" provém de quem quer dizer que alguém poderá ter uma arma como peça decorativa, mesmo que seja uma decoração de mau gosto. O que conta é a existência de um dedo no gatilho e não o fato de existir um gatilho.


* Citar a questão da propriedade me fez lembrar que muita gente adora falar no clichê "ter e não ser". Este blog acaba de banir tal expressão pro bem de manter a paciência do blogueiro dentro dos limites possíveis.