quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Poema anticapitalista

Enquanto o dia em que eu conseguirei botar as fofocas em dia não chega, enquanto o dia em que a vida não me dá sossego pra voltar a falar da minha vida e da alheia, enquanto minha prostituição social não termina, enquanto eu não chego no topo pra poder comentar as coisas durante a volta ao pé do monte, vou postando poemas aqui. Minha intenção ingênua é de poder publicar tudo em livro um dia. Por enquanto, vou treinando a escrita e mostrando. Hoje será algo que escrevi há um bom tempo e que estava meio que perdido nas pilhas de fotocópias da época di quandu fiz faculdadi.
Relaxem e me apedregem, se quiserem.


Ah! que saudade que eu não tenho
da Aurora, minha vida
a infâmia da infância
e bem que podia ser esquecida!

Levar porrada dos maiores
esporro dos velhos
cascudos, bofetadas, beliscões
e não conhecer orgasmo

Ser apanhado apanhando fruta do pé
cachorro mordendo do pé
ir na venda a pé - e era longe pra cacete!
e dar lugar pra ficar de pé

Por que ter saudade
da Aurora, minha vida?
se a infâmia da infância é a mesma
bem que podia ser esquecida!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Voltando a justificar

Como venho dizendo ultimamente, não tenho tido tempo pra fazer algumas coisas. Dentre elas, a leitura e a escrita. Não tenho conseguido, portanto, ler os blogs que gosto, muito menos comentá-los. Mas aviso aos amigos de que não demorará pra eu conseguir retomar essas leituras.
Além disso, também não tenho conseguido escrever o que gostaria. Aliás, acho que nunca consegui e o leitor mais atento, ao ler minhas postagens anteriores, desde as primeiras, perceberá o mesmo.
Mesmo assim, sempre dá um tempinho, nem que seja entre um Ricoeur e uma Carvalhal, pra escrever uma bobagenzinha. Nem que seja em forma de poema. Se bem que o leitor mais atento também perceberá que tenho feito poemas descaradamente neste espaço. Percebi, ao ler alguns dos últimos publicados aqui, percebi que é uma espécie de autoviolência essa coisa de escrever poemas, especialmente quando se trata de Eu-lírico. Ainda quero escrever poemas com um Nós-líricos. Enquanto não chega esse dia, sigo postando minhas autoviolências pessoais. Sinta-se a vontade pra dar uma cacetada, bem de leve.

autoestupro

Escrever é autoviolência
pois preciso ser
Preciso
ser vil
Preciso violar um ciso
pra escrever o que preciso
num téxto vil
e demodê comum poema
impreciso e com ciso
e reto

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Matando a saudade com poema

Já fazia um tempo que não aparecia por aqui pra postar. Minhas atividades profissionais e estudantis têm me tomado tanto tempo, que minha vida se resume a ficar deitado na cama. Sim, fico deitado na cama o tempo todo, dizendo: não tenho tempo pra nada! O tempo vai passando, e só consigo dizer: não tenho tempo pra nada! De vez em quando, dou uma parada nessa tensão e vou trabalhar ou ler os textos necessários à pesquisa exigida pro mestrado. Mas essas coisas atrapalham um pouco minha atividade principal. Logo, procuro me organizar e separar um tempo pra me obrigar a deitar na cama pra dizer que não tenho tempo pra nada. Mas preciso ir às aulas também. Tem alguns momentos em que perco a atenção e me ocorrem coisas que gostaria de escrever pra postar aqui. Acabo esquecendo. Algumas dessas coisas eu consigo anotar, mas ficam esquecidas nas folhas do caderno. Hoje fui reler algumas coisas e encontrei o poeminha que posto logo abaixo. Não tem nada a ver com a minha rotina que narrei acima, mas isso não tem a mínima importância. O importante é que estou tentando retomar a escrita por aqui e que isso se dá através de um poema escrito durante uma aula de Literatura Comprada, digo, Comparada. Ou Com Parada, já tenho minhas dúvidas. Segue o poema. Mas antes um protesto: o blogger mudou tanto que não consigo mais editar meus textos e justificá-los. Feito o protesto, o poema.


Ce n'est pas une nouvelles

Magritte pornográfico
disse que não era
depois de por no gráfico
à francesa já tinha
enquadrado a boca torta
- o pior cego é o que não lê
que Magritte pinta e você pita
e como "pinta com meu pinto"
posnográfico a boca
da leitura revelada

sábado, 14 de janeiro de 2012

Da Literatura comprada com parada.

Neste ano que se aprochega, trago algumas novidades. Aos poucos vou lançando tudo aqui. De momento, prefiro me ater a uma: em março, inicio meu mestrado em Literatura Comparada. Boa parte dos meus leitores sabem muito bem que isso significa que serei mestre em relacionar tudo com outras coisas. Ou tudo com coisas nenhumas. É complexo. Acho que uma historinha pode contar melhor o que é estudar Literatura Comparada, ou até mesmo definir como é um estudioso nessa área. Peço paciência ao leitor porque é bem instrutivo e vai fazer aquele que caiu aqui porque pesquisou o nome do João Sérgio Guimarães, ou de uma piadinha sobre o Lula, entender que diabos é Literatura Comparada e o perfil das pessoas que se envolvem na área. Leia e entenda.
Como disse acima, nada melhor pra explicar algo sobre Literatura do que uma historinha. Então, desfrute.

No tocadiscos, um LP d'os Engenheiros do Havaí toca “Anoiteceu em Porto Alegre” e o pai escuta com ar saudoso e nostálgico. Quando o filho, que está junto, escuta a palavra “walkman”, pergunta:
- Pai, o que é ualquimén?
- É o que as americanas dizem quando me veem: “uau, que man!” - brinca o pai.
Se a mãe, que está ao lado, é de qualquer área que não a da Literatura Comparada, explicará que walkman é um aparelho de som com toca-fitas, antepassado dos ipods e dos celulares com fone de ouvido, onde se poderia escutar rádio ou sons gravados nas fitas K7, quando ela ficaria brava pelo filho ter rido. Poderia até a mãe mostrar algum exemplo, pesquisado no google, caso ela conhecesse tal ferramenta, ou o próprio garoto depois tirar algumas dúvidas na wikipedia. Mas se ela fosse crítica de Literatura Comparada, a provável explicação seria essa:
- É assim, filho: o teu pai, segundo o pensamento da antropologia, está buscanto traços identitários e demonstrando a própria idade através do humor característico dos anos 90. Sendo assim, o walkman é, segundo a visão da imagologia, um fator simbólico de fixação temporal diacrônico, onde o “eu” do seu pai é enraizado no período dos anos 90, quando se escutava rock dessalinizado ou o samba mais hiperglicêmico, ou ainda as músicas que as grandes gravadoras pagavam as emissoras radiofônicas para executar músicas pré-estabelecidas; enquanto isso, o “outro” dele, que é você, está paradigmaticamente fixado na atualidade, na questão de já quase não haver mais nem os dispositivos acionáveis por comando digital (aqui, a mãe faria um sinal para que o garoto aguardasse para uma explicação ao termo “digital” que, segundo a mãe, seria o defendido pela ciência da anatomia, remetendo ao toque do dedo), além de que agora quem paga são os músicos para tocar nos programas de auditório delevisivos ou em canais específicos de música. As diferenças mais sensíveis entre esses dois momentos, filho, seria de que o seu pai precisava ir à casa de algum amigo que tivesse o Long Play (novo sinal, para explicar depois ao filho o que quer dizer o termo, mas sem falar na tradução do inglês, para deixar o filho com alguma dúvida e que instigasse a procurar a resposta do google translator) com a peça musical que lhe interessava ou escutar quando ela fosse ser executada numa estação radiofônica, para então gravá-la em K7 (aqui a mãe explicaria, apressadamente, como uma citação, a diferença entre k7 e cacete, o que renderia alguma risada), ao passo que você, filho, pode fazer download da música, claro, se estiver em algum país que isso é permitido, ou copiar via bluetooth de algum amigo.
Ao final da fala, a mãe retoma os sinais feitos para explicar os termos “digital” e “Long Play” e depois dar uma lista de livros teóricos de onde ela teria tirado cada explicação e os pensamentos, incluindo com as datas, para depois voltar à leitura de uma releitura desconstrutiva de uma tradução do Don Quixote para um filme do Leste Europeu.
No dia seguinte, o filho estaria escutando o disco do pai com um amigo e, quando a palavra “walkman” aparece novamente, o filho repete a explicação que ouviu da mãe. Mas esta repreende:
- Na verdade, filho, Genette explica de uma outra maneira... assim como Pierre Bourdieu, em suas Trocas simbólicas... somando-se tudo ao fator da conversão da energia sonora em elétrica e depois a conversão contrária e da mecânica em contraposição à nanotecnologia...

Assim, meu caro leitor incauto, é a vida de um pesquisador em Literatura Comparada. Dá pra ver, através dela, o que é estudar tal ciência. Não tem como ser mais claro.