sexta-feira, 8 de maio de 2009

Se é pra fazer, melhor fazer bem feito!


Tenho estado tão ocupado que não consigo acessar com a frequência desejada e acabo deixando o blog parado por alguns dias. Isso é sabido por todos os meus 6 leitores (isso mesmo, já cheguei à marca da meia-dúzia!). Também ainda não tive a oportunidade de mostrar aos leitores um pouco de como desenvolvo as minhas aulas. E não mostrarei ainda, mas pretendo fazê-lo em breve. Mas ainda falta falar de arte, já que tenho ocupado esse espaço com conversa sobre política (e não abandonarei esse tema), mas devo confessar que uma sociedade se faz muito mais com arte do que com votos ou protestos. E quando falo em arte, não falo em beleza, poesia neolítica ou perfumaria. Aqui a arte é coisa séria, de gente grande que não precisa pedir pra mãe pra ir brincar com os amiguinhos. Também não quero adotar linguagem exageradamente acadêmica porque não suporto isso, a não ser que seja extremamente necessário. Sem mais milongas, vou encaminhar um comentário que fiz a respeito de um filme que vi, chamado Saneamento básico, de Jorge Furtado. A aproximação a Borges não é minha, mas roubei de um amigo por motivos nobres. Está com uma linguagem acadêmica porque foi escrito direcionado para um site de cinema. Prometo não fazer mais isso.

No melhor estilo enciclopédico de Jorge Luís Borges, o produtor Jorge Furtado realiza, em "Saneamento básico" uma verdadeira aula de cinema.
A história apresenta dois grandes conflitos (a construção da fossa e a realização do filme) cercado dos conflitos pessoais das personagens.
Grande destaque à metaficção fílmica, onde "Saneamento básico" adota "O monstro do fosso" para demonstrar ao público como se concebe uma produção cinematográfica, desde a ideia central, passando pelo desenvolvimento do texto escrito e o questionamento da tradução textual-imagético, chegando à montagem e escolha da trilha.
Ao mesmo tempo, há discussões acerca das questões ecológicas e das contradições do homem. Isso ocorre quando os produtores do filme encapsulado planejam pôr mensagens ecológicas ao mesmo tempo em que metade deles abusam do tabagismo.
Outra discussão gira em torno da questão linguística: durante o desenvolvimento do roteiro, os personagens procuram adequar a linguagem empregada pelo "narrador" da história. Inclusive, a própria roteirista chega a discutir concordância de gênero durante os agradecimentos na pré-estreia.
Merece destaque, dentre outras situações metafóricas, a presença do político: não libera recursos para as obras, jamais se envolve nos projetos da comunidade e ainda recebe muitos créditos públicos.
O trabalho dos produtores da Casa de Cinema de Porto Alegre ganha muita proximidade à obra de Jorge Luís Borges por apresentar características inteligentes: adotar uma obra para explicar todo o sistema que a abrange, sem se descuidar das informações que constroem uma verdadeira obra de arte. A aula de cinema, no entanto, não é restrita ao didático uso de um filme para falar da arte cinematográfica. A aula inicia pelas próprias características da produção em cada detalhe, tal como a ficção do escritor argentino.

Um comentário:

Profano disse...

E eu acrescentaria que o um dos pontos altos é, além de denunciar de forma divertida a ineficácia do aparato burocrático, a Camila Pitanga recitando o texto do Gustavo Corção.