quinta-feira, 23 de abril de 2009

"Não sei por que digo, mas sabes por que ouves!"

Os jornalistas e os cronistas em geral costumam apontar quem falou determinada frase. É sempre "Presidente Lula diz: 'Nunca antef na hiftória defe paíf bla bla bla'" ou "O Ministro Tarso Genro continua explicando o inexplicável" ou, pra quem mora no estado da RBS, "A Desgovernadora Yeda (cruzes!) diz que não gosta dos professores e que vai soltar os pitbulls se a greve acontecer...". Muito se escreve e se mostra sobre quem fala. Pouco ou quase nunca se comenta sobre quem ouviu. Pensando nisso, resolvi também ouvir e ler para, depois, falar um pouco sobre quem ouve algo. Inicio meu ouvido e meus olhos sobre uma fala interessante dessa semana: “Vossa excelência, quando se dirige a mim, não está falando com seus capangas de Mato Grosso”. O primeiro-ministro do STF, Gilmar Mendes, que até poderia ser chamado de Gilmar Melada se não fosse o respeito exigido ao cargo que o culpa, digo, ocupa, foi quem ouviu isso. Por quê, raios!, ele ouviu isso? Não foi somente por ter tentado calar, na marra, um nobre colega. Imagino que seja por ele ter algum bom relacionamento no Mato Grosso. Além disso, parece que ele ouviu algo a respeito da sua fama de homem educado e que, costumeiramente, trata as pessoas com delicadeza. Somando, também, a um convite para ir às ruas. Não quero ficar fazendo ilações, mas tem momentos em que a gente tem que ser um pouco Nelson Rodrigues: a mulher tem que apanhar todos os dias. O homem não saberá por que bate, mas ela certamente saberá por que apanha. É disso que estou tratando. Certamente, o Gilmar (que não é o das Candongas, é claro) deve saber os motivos pelos quais está ouvindo. Eu é que não sei e talvez o próprio autor da frase (o que não vem ao caso) também não tenha muita ideia.
Depois, outra que este otário ouviu hoje: a categoria dos professores é uma das mais desunidas que existe. Não importa (muito) de onde veio, mas exprime uma das poucas verdades absolutas das quais até Nietzsche reconheceria. Acontece que há uma regulamentação federal que trata, dentre outras coisas, do piso nacional dos docentes. Novidade? Claro que nenhuma. Meu leitor é muito melhor informado do que eu. Mas o que chocou no que este otário ouviu (não sei por que essas coisas ainda chocam alguém) é que uma quantidade enorme de gestores públicos estão descumprindo essa legislação (além de uma cacetada de outras) e estão fazendo de tudo pra, além de não pagar o piso, pisotear ainda mais nos professores. E o que os profissionais estão fazendo? Se mobilizando? Claro! Já leram que os meus (poucos, mas de fé) leitores são mais bem informados do que este não muito humilde otário. Os professores, aqueles que deveriam ser formadores de consciência, na maioria esmagadora dos casos, são os que têm demonstrado ter a mentalidade mais conformista e antiética entre todos os profissionais. O leitor quer um exemplo? Tenta processar um advogado. Depois é só verificar quantos se prontificarão pra ficar ao seu lado e quantos se prontificarão pra defender o nobre colega. Tente extrair uma acusação de um médico contra outro. É exatamente isso. Um professor não suporta ver um elogio a outro. Parecem concorrentes. O que é preciso? Quer um conselho? Mas, pra não fugir da proposta do post, o meu destinatário está lendo isso e se perguntando: "Por que cargas d'agua esse otário está me dizendo isso?". A resposta continua com o Nelson Rodrigues.
Voltando ao caso das minhas colegas de trabalho (que se assemelham com as donas de casa do Sílvio), ouvi outras pérolas e fiquei me perguntando outras coisas a respeito. Dessa vez, eu é que estou apanhando do Tio Nelson (desculpa, Rafinha Bastos, mas o trocadilho foi inevitável): "A escola só fará paralisação quando receber ordens superiores. Quando recebermos orientação do Secretário de Educação ou do Prefeito...". Dessa vez, foi um soco no estômago. Acho que nem preciso fazer piadinha com isso.
Mas fico feliz em saber que ao menos eu não estou ouvindo coisas como o nobre primeiro-ministro do STF. Ao menos os meus ouvidos têm ouvido coisas explicáveis por qualquer um. Aquele conhecido e chamado por Vossa Excelência é o único que sabe por que está apanhando. Já o meu caso, todos sabem por que eu apanho. Por essa o Nelson não esperava!

2 comentários:

Anônimo disse...

Ah, o Mato Grosso e seus capangas. Aqui, RBS e Yeda; lá, capangas. Gilmar Melada! QUAQUAQUA!!! "O senhor está acabando com a justiça desse país!", e o Melada responde com risadinhas. "Saia às ruas!" Esse Joaquim Barbosa é demais. Qual é o espanto quanto à desunião dos professores? Começa na faculade, não lembra? O curso é esquecido, não há união dentro da facul. Quem não lembra das aulas metade na Faculdade e metade numa escola particular do amigo do Magnífico? A outra metade (sim, três metades, eu fiz Letras, não Matemática)na outra Universidade e uma quarta metade em cima de um estádio de futebol? Cadê clima de união? E quando protestávamos? Nem o diretor nem os professores aprovavam, inclusive perseguiam. Começa aí. O magistério é uma profissão bem feminina, por isso Nelson Rodrigues deveria ser o patrono das turmas, que achas? O conselho de "Vá às ruas!" poderia ser seguido pelos professores, né? Que achas?

Alexandre Antonio disse...

Em tempo:
É vergonhosa a afirmação do Rodrigues. A expressão machista elevada ao último grau da ignorância nunca deveria ter servido a este post.
Não vou retirar, porque acho bom registrar meus momentos de vergonha e porque o post, em outros aspectos, acaba sendo relevante pelo momento histórico. Mas que as leitoras saibam: o pensamento do cronista pornográfico não coincide com o do autor do blogue.