quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Currículo

Tô pensando em viver da minha arte. As coisas não estão fáceis, eu sei. Tem bastante gente na fila e talvez eu não tenha todo o talento necessário, mas quero me sustentar do que me dá gosto. Sim, eu estudei muito pra ser professor. Estudei sempre na educação pública, da primeira série ao mestrado. Mas as coisas têm prazo de validade na minha vida, especialmente, digo, muito especialmente, a profissão. Vejam vocês, meus caros leitores, minhas caras leitoras, que já fui auxiliar de enfermagem de posto de saúde, auxiliar de enfermagem do trabalho, já preguei tira e aparei rebarbas metálicas em sandálias, já soldei alça e serigrafei sacolas pra lojas, já entreguei sacolas em lojas, já trabalhei no transporte alternativo (uma espécie de uber, só que no meu fusca e sim, eu poderia estar no choque de cultura), já atuei em um comercial de casa noturna, já dei aulas particulares, já fiz traduções do/para o espanhol, já fiz revisão textual de trabalhos acadêmicos, já fui acompanhante de idosos, já lavei e controlei a qualidade da água de piscinas, já faxinei academia, já fiz trabalho de ronda, já fui segurança de show de reggae, já viajei pro Paraguai pra trazer bugigangas e abastecer camelô, já fiz pesquisa por telefone, já atendi em bar de festival hippie e acho que fiz mais uma ou duas coisas pra sobreviver, só que não me vêm à mente no momento. Ah, sim, no momento estou professor da rede pública há 11 anos. Mas durante todo esse período, sempre mantive a arte como base de sustentação intelectual e emocional, além de uma forma de mostrar minha visão de mundo às pessoas. Mas o caminho é longo até que possa assumir essa mudança. A arte exige bem mais do que todas as habilidades que me foram exigidas pra executar essas atividades. Mais até do que a sala de aula, que de longe é e sempre foi meu grande desafio profissional.

Aos poucos vou falar melhor da minha arte por aqui.


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