quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ex-porádica

Outro dia, dei uma olhada nuns vídeos sobre stand up comedy, no youtube. Tudo a mesma coisa de sempre. Piadinhas de sempre, com raras excessões. Mas me chamou a atenção uma expressão que é usada pela maioria esmagadora dos tais comediantes: "eu não entendo...". Sempre tem uma piadinha tipo: "uma coisa que não entendo é o motivo de a gente perder tempo tomando cerveja. A gente mal termina de tomar e já tem que correr ao banheiro. Seria melhor despejar a bebida direto no sanitário...". São coisas nesse nível (sem graça e forçado). Mas resolvi homenagear esses "novos" humoristas com uma piadinha tão sem graça quanto as deles e com o mesmo jargão. Segue:
Uma coisa que não entendo é a crasse média brasileira. Não falo em classe média, aquela que está no meio da pirâmide e que vive do trabalho. Falo da crasse mesmo. Aquela que é composta por pessoas que, por ganharem um pouco mais, se julgam no direito de superioridade. Pensam que são eu. São aquelas pessoas que julgam que, por saberem conjugar o verbo ter na terceira pessoa do plural sem usar o "a gente" ou o "nóis", são cultos e escrevem tudo corretamente. Aquelas pessonhas que são capazes de estacionar em fila dupra e, quando abordados por um agente de trânsito, dizem: "pode multar que eu tenho dinheiro pra pagar a multa!". Também são capazes de deixar uma mangueira escorrendo água rua a fora e, ao vizinho comentar que a terra ficará seca num futuro próximo, fala a mesma coisa sobre ter dinheiro pra pagar. São aqueles que julgam que sustentam o país. Geralmente são aqueles que mamam nas tetas da república, de um jeito ou de outro.
O que não entendo nessa gente, não são as características que falei. Não entendo é a maneira como ficam fazendo piadinhas sobre o bolsa família. Não sou muito simpático à ideia de dar dinheiro às pessoas, assim, do nada. Mas tenho tutano o suficiente pra tentar saber como a coisa realmente funciona pra depois sair macaqueando o imbecil do Anal do Jabor, aquele que enriqueceu recebendo dinheiro da ditadura pra fazer filme boboca. Pra tentar entender, vou contar um causo.
Voltava, eu, de uma viagem longa, a uma cidade distante uns 700 Km da minha casa. Vinha de uma série de reuniões sobre saúde (antes de resolver enlouquecer de vez) e um cidadão que acompanhava sua esposa, minha colega de trabalho (infelizmente), resolveu contar uma experiência que teve numa certa viagem a uma determinada cidade do interior de Mato Grosso, se não me engano. Contou que estava com vontade de ir para a tal da cidade porque lá todos viviam de uma fabulosa grana que recebiam do tal de bolsa família. Segundo ele, todos recebiam mais de 2 mil reais mensais com o benefício. Isso me impressionou. Conheço uma família que há pouco tempo recebia R$ 90,00 por ter dois filhos na escola. Fico imaginando a quantidade de filhos que precisa ter pra se ganhar dois mil real, ou reais como diriam os medianos. Meu pau diria dois pai. Perdão pela troca, meu pai é quem diria dois pau. Acho mais legal falar como meu pai. Tipo, falar que na era Vargas era Getúlio... isso deixa pra outra hora. O importante é eu ficar sem entender como alguém pode acreditar numa bobagem de que "sustenta, com seus suados impostos, uma cambada de vagabundos que ganham fábulas da tal bolsa". Realmente, não entendo.

Depois de pensar sobre isso, comecei a entender os motivos da expulsão da universitária pobre. Aliás, antes de expulsá-la, deram um jeito de apedrejar e dizer que "o tecido da saia dela subia, não é como o meu que é feito com os fios extraídos do bixo da seda...". Não se pode permitir que uma pobre frequente um espaço destinado aos ricos. É isso que entendi sobre o pensamento da crasse média.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boa a crônica.
Parabéns

L.A.