quinta-feira, 11 de junho de 2009

Santa intelectualidade

Veja que beleza
em diversas cores, veja que beleza
em vários sabores
a burrice está na mesa

Refinada poliglota
anda na esquerda anda na direita
mas a consagração foi o advento da televisão

Ensinada nas Escolas
Universidades e principalmente
Nas academias de louros e letras
Ela está presente

O texto em epígrafe é um resumo (se é que alguém tem direito a resumir alguma obra de arte) da letra de uma música do Tom Zé, o Frank Zappa do hemisfério sul. Na verdade, fico na dúvida se o Frank não é o Tom Zé ianque. De qualquer maneira, esse post não tem a intenção de comparar os dois e tentar descobrir qual é mais relevante. O fato é que um é tão inovador, irreverente e ácido quanto o outro. Mas quero me ater ao trecho citado acima.
A música leva o inteligente título de Burrice, algo na moda atualmente. É só olhar pros lados que já se encontra alguém tentando imitar essa moda. É engraçado, mas isso não nos abandona há séculos. A burrice já foi venerada desde os primórdios da civilização ocidental no Egito, passando pela Grécia, chegando à Roma Antiga e chegou aos dias atuais tão atuais quanto os próprios dias atuais.
Cada vez que acessamos algum meio de comunicação, seja em massa como um telejornal ou boca-a-boca público como os sites de relacionamentos (leia-se orkut, hi5 e outros) que logo nos deparamos com a tal.
Por que trago toda essa conversa aqui pro blog? Já conto.
Dia desses, ao participar de uma comunidade do orkut, me deparei com um debate sobre separatismo no estado do vice-governador golpista e mui amigo da universidade religiosa. Não resisti e fui olhar os argumentos.
Eram uns 4 elementos argumentando favoravelmente a que o estado da revolução de mentira se emancipasse do país da ecologia de faz-de-conta. Primeiro diziam que temos uma cultura diferente do restante. Nisso eu concordo. Da mesma forma que entre dois bairros de uma mesma cidade existem grandes diferenças. Falaram que a língua era completamente diferente. Lembrei que quando morei em Porto Alegre, percebi que quem morava no Bonfim, por exemplo, falava bem diferente de quem morava no morro Santa Tereza. Não lembro de o pessoal do morro ter se julgado capacitado pra criar um novo país. Depois, retomando a diferença cultural, disseram que os gaúchos, que nada mais são do que argentinos que não falam espanhol direito, eram de uma cultura superior em relação aos demais estados. Foi aí que lembrei do Tom Zé. Procurei alguém capaz de ser comparado a ele e não encontrei. Mas não quis entrar no debate, ainda. Sempre lembrando que o TZ é baiano, logo do estado mais estigmatizado. Fui adiante na minha leitura. Cheguei ao argumento da economia. Diziam os culturalmente superiores que se fosse criado um novo país, esse teria uma economia forte. Foi quando resolvi entrar na discussão. Não vou estender muito meus argumentos aqui, porque os próprios leitores já imaginam. Já deixei clara a relação do que foi defendido pelos separatistas com a letra da música do Tom Zé. Só vou falar dos últimos posts, de maneira resumida. Primeiro ataquei à superioridade cultural que vem da famosa Revolução Farroupilha, aquela que já citei várias vezes como de mentira ou empatada. Falei da mentira histórica sobre a tal revolta, principalmente o tratamento que os iluminados líderes deram aos escravos que lutaram pela liberdade. Depois ataquei o argumento econômico. Disse que seria um retrocesso, levando em conta que os países estão se reunindo em blocos econômicos justamente pra lhes dar condições de concorrer com os que têm maior territorio. Citei, inclusive, o exemplo da Comunidade Europeia, que já adotou moeda comum e tem parlamento próprio. Falei que há uma tendência a que o Velho Continente construam uma espécie de estado. Me rebateram, dizendo que eu deveria falar com os europeus. Quando eu falei que tenho contato com europeus e com brasileiros ou africanos que moram na região e que na maioria das opiniões desses conhecidos essa hipótese se confirmava, recebi uma resposta extremamente inteligente, tipo: "sempre tem um cara metido a saber dos segredos do universo..." ou "que cara metido... conhecedor e guardião dos segredos..." e tem um lá que disse, depois de muito admitir a própria ignorância sobre tudo que eu tava falando, que eu deveria fazer trabalhos braçais. Fiquei tão triste.
Fiquei triste em saber que um grupo que julga que mora num estado de cultura superior não consegue sustentar um debate um pouco menos achista. E olha que só falei em coisas publicadas na imprensa, como a coluna do Juremir, do Correio do Povo.
Precisei encerrar o debate. Agradeci pelo reconhecimento e comentei que não é todo dia que alguém reconhece a própria ignorância e assume que um debatedor é culturalmente superior. Depois disso, não tive mais vontade de acessar o debate. Desde então, a música do Tom Zé não me sai da cabeça.

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