sábado, 17 de setembro de 2011

Psicografando do e-mail

"Prezado otário,
como sei que és um bom gaúcho, queria pedir que publicasse essa homenagem à nossa terra e às nossas tradições que escrevi. Sei que não sou muito bom com as palavras, mas expressa o sentimento do verdadeiro povo do sul. E viva a Revolução Farroupilha!


Dia 20
chegando, preciso preparar minha pantalha. Passo o ano inteiro de caminhonete luxo pra cima e pra baixo, mas preciso andar a cavalo porque é dos meus costumes. Afinal, sou gaúcho. Minha pilcha já está pronta. Finalmente vou precisar usar meu traje típico e tirar o jeans do dia-a-dia. Vou votar na oposição porque honro minha tradição de sempre achar que sou mais politizado.
Tenho muito orgulho do nosso passado. Agradeço aos grandes produtores de charque que construiram nosso belo conjunto arquitetônico e que emprestaram os escravos pra construir os prédios públicos. Afinal, uma mão lavava a outra como ambas se lavam até hoje. Dos negros que herdaram a hipertensão dos antepassados escravos, não preciso lembrar. Afinal, vivemos num estado branco.

Algumas coisas do passado eu quero esquecer, mas ainda me atormentam: a quantidade de gente inocente que degolei, os camponeses que saqueei em nome da revolução que não revolucionou nada e os escravos para os quais eu prometi liberdade, mas vendi pros estancieiros mais do norte. São essas as façanhas que quero que sirvam de modelo a toda terra? Se não são, quais são?

Mas algo está havendo de errado comigo. De repente, me bateu uma vontade de mudar algumas coisas por aqui. Pretendo mudar o hino da república do esterco encefálico, como chamo carinhosamente este torrão onde nasci. Pretendo publicá-lo no data máxima (porque todos achamos o máximo) em que desfilamos nos trajes que costumamos andar sempre e nos meios de transporte de sempre, desde os anos 70, num grêmio estudantil de uma escola de cidade grande."

* Este texto nada tem a ver com o autor deste blog. Foi recebido por e-mail de um tal de Astolpho Fagundes, com o pedido de publicação, conforme o leitor bem pode perceber no inicio do post. No entanto, este blogueiro prefere deixar pra homenagear a terra de São Pedro no dia dos desfiles.

2 comentários:

Unknown disse...

Eu sei que corro o risco de sofrer um atentado ou coisa parecida, mas acho um saco esse "gauchismo" ufanista que nós tem aqui no sul. Não vejo muitos motivos para se comemorar uma "revolução" que só beneficiou os abastados charqueadores (burguesia). Quem ficou na linha de frente foi o povão. Muito indivíduo morreu, muitas famílias ficaram desamparadas (já que era, à época, uma sociedade patriarcal). Se a morte dessa gente e a desestruturação das famílias é motivo de orgulho, não entendo mais nada.
O texto desse teu amigo mostra, de certa forma, o arquétipo desses parvos que se fantasiam de gaúchos na semana farroupilha, mas não tem nenhuma ligação com tradicionalismo e nunca pararam para pensar sobre o que estão comemorando.
Também não gosto das músicas gauchescas. As letras me remetem a Nietzche. No fim das contas, o gaúcho é sempre descrito, exaltado como o "Super-homem" de que falava o filósofo alemão. Não me agrada, nem um pouco, esse tipo de poesia.
Otário, acho que o teu texto (ops, do teu amigo)pode render uma boa reflexão/discussão/diálogo sobre esta data, tão querida pelos bombachudos.

Abraços

Alexandre Antonio disse...

Não te preocupes, Leonardo, que este blog tem tão poucos leitores que não corres o risco de represália por bombachudos. Pode ficar a vontade porque este espaço é lido por poucas pessoas. Todas valorosas, diga-se de passagem.
Mas voltando ao debate, segundo a historiografia, a população em geral não era favorável à guerra. Ao que parece, os populares que acabaram indo pro combate eram os empregados mais desprestigiados e os negros que ganhavam liberdade quando morriam ou seriam (como realmente foram) vendidos após a assinatura do tratado de paz, ou ainda eram libertos pra incorporar ao exército imperial pra lutar na guerra do Paraguai. Assim, foram branqueando a população da região.
Quanto à música regional, até vejo com bons olhos, ou melhor, ouço com bons ouvidos, os casos que realmente têm alguma marca de cultura regional ou folclórica. A que se pretende ser autêntica representação simbólica do estado mais politizado, vitaminado e turbinado do planeta, aí eu quero distância mesmo!
Mas logo aí vem oo novo post, pra encerrar a semana. Espero que goste.

Abraços